7.4.08

non – descrição de um abismo
Janeiro de 2007
Performance
Apresentada na exposição
non_Essa visão da realidade vale a outra
realizada no
MAD WOMAN IN THE ATTIC




DESCRIÇÃO DE UM ABISMO
A visão de aqui.
Ora aqui está.
Onde pernoitas, cansas, recuperas
e pronto, quando «te vês» é tudo.


(PARA SI PRÓPRIO)
Essa visão da realidade

vale a outra, e a outra, e a outra

– o espectáculo dos olhos,

dos pénis, dos ruídos,

substituem o dos campos,

se tos negam – (…)


“OS CRIMINOSOS E AS SUAS PROPRIEDADES”

in “raso como o chão” de Álvaro Lapa

Editorial Estampa, Lisboa, 1977


“Se olharmos para a linguagem dos grupos islamistas, há claramente um regresso agDeus. Se olharmos para os fundamentalistas na Índia há um regresso a Deus. Se olharmos para a linguagem do presidente Bush, e lermos o segundo discurso inaugural da presidência, há um enorme regresso a Deus. Se olharmos mesmo para a linguagem do senhor Blair, na Inglaterra, há um regresso a Deus – A maior parte dos britânicos não queria que fosse para a guerra do Iraque, porque é que foi?, e ele disse (algo como):”Bem, sou alguém que acredita em Deus e nos meus princípios, oiço a voz e prossigo”…
Portanto sim. No discurso político público há, em geral, um regresso a Deus.
Mas ao mesmo tempo também penso que a linguagem de Deus tem de ser vista em relação com as forças sociais, históricas e tradições políticas. E quando olhamos com atenção vemos que a linguagem de Deus é frequentemente utilizada para justificar determinados actos políticos.
Por que é que isto aconteceu? Porque removemos da linguagem da política o lugar da emoção, do sentimento, do afecto. Tornámos a política instrumental, super-racionalista e, retirámos a ênfase ética e afectiva da linguagem.
(…)
Numa situação em que temos migrações em grande escala, refugiados, movimentos populacioais, (…) quando temos tanto desenraizamento, perigo e transição, é muito importante, em conjunto com um sentido de racionalidade, ter um sentido de emoção, da ética, que fale à nossa imaginação, que dê um sentido de pertença.
A linguagem do regresso a Deus também tem que ser vista no contexto dessa falta.
Penso que é por aí que devemos começar. Por ver a hibridização da cultura. Não pensar que aqueles jihadis pertencem ao século XIII na Arábia Saudita, que são parte de um mundo oriental ou de outro mundo qualquer diferente do nosso. Muita da gente envolvida (nos ataques) vem de um meio burguês, não passou privações, tomou uma determinada decisão política. O nosso desafio é impedir essas pessoas de tomarem essa decisão.
Acredito profundamente, como Hanna Arendt, que quando a morte se torna uma parte do processo de decisão política – seja o Estado a tomar a decisão, um individuo ou grupo -, é a morte da política e da sociedade. Se a morte é usada como um valor político mata completamente a política e a vida social.
(…)
A “dúvida global” permite ver e questionar os desenvolvimentos da globalização. Não significa ser negativo em relação à globalização, mas permite-nos ter uma visão equilibrada, perguntar, (…) Permite ver onde estamos e onde deveríamos estar. Dá-nos uma visão ética, das responsabilidades, da justeza, e é a base de uma ética global.
Homi Bhabha ao “Pública”