Partindo de pequenas narrativas históricas, neste caso sobre o Padre António Vieira ou sobre o Milagre das Rosas, o artista recorre a processos de encenação e de engodo que convocam memórias históricas dos mitos da portugalidade, remetendo para o universo da memória colectiva. A série non, na linha de outros trabalhos anteriormente apresentados, congrega uma forte carga simbólica que o próprio étimo latino deixa adivinhar – trata-se aqui de reunir, numa só palavra, um modo de vivência que tem vindo a caracterizar a identidade nacional – uma visão pessimista que encerra em si mesma um estado de alma. Como Padre António Vieira escreveu em 1670, “O non mata a esperança, que é o último remédio que deixou a natureza a todos os males.”. Acredita-se que a pedra que se encontra agora em exposição no criptopórtico, e da qual o artista se apropriou, seja a 13ª pedra com a inscrição “non”, encontrada em território português. Reza a lenda que Padre António Vieira a tenha visto em 1666 (refira-se aqui, em tom de nota, a carga simbólica da data, pois, tal como o pregador dizia, é um número que se pode escrever com todas as letras da numeração romana em sucessão da de maior para a de menor valor – MDCLXVI, e 66 é o dobro dos anos de Cristo), quando, condenado a privação da voz activa e passiva e suspenso de pregar pelo Tribunal do Santo Ofício, preparava a sua defesa para apresentar ao Tribunal de Coimbra. Ainda na condição de réu, terá pensado nestas palavras, que, mais tarde, em 1670 e já em Roma, escreverá num sermão, na sua luta declarada contra a Inquisição. Para além desta obra, MSM apresenta ainda non_ milagre, que remete para a própria história da cidade de Coimbra e para a figura da Rainha Santa Isabel. Exposta no contexto de uma livraria de museu, a obra aponta, para além da óbvia reminiscência histórica, para uma outra leitura que se cristaliza na contaminação de um espaço não expositivo.